Entre o remédio e o veneno: precisamos falar da sua profissão de síndico!

Há poucas semanas, uma amiga organizou seu primeiro clube do livro. A obra escolhida foi “Tudo é rio”, de Carla Madeira — já fica de dica cultural. A autora participou do rico debate sobre sua criação. Uma fala dela me marcou bastante.

O livro, entre outras coisas, é sobre o perdão. E, em determinado momento da conversa, ela disse uma coisa penetrante: “O perdão existe para as coisas imperdoáveis. Para as perdoáveis, ele nem precisaria existir. Elas já estariam perdoadas claramente”.
E não é verdade? Uau!

Ao sermos chamados para nosso primeiro evento presencial pelo Síndico, Administrador, Empresário e Santista @sergiocraveiro pelo portal @sindiconline, com participação da brilhante @alethea_sindica, fomos; eu e Juan convidados a falar sobre desafios da gestão condominial pós pandemia.

Pensamos em tudo o que podíamos falar sobre condomínios, apresentar temas consagrados, belas apresentações em powerpoint, etc. Mas se era pra ser desafiador, fomos encorajados a encarar uma plateia de 50 síndicos somente com algumas ideias na cabeça e o famoso gogó.

Discurso afiado, logo na apresentação, uma ideia pinta:
“Vamos falar sobre nossa principal diferença a eles Clodo, encara?” Disse meu sócio numa troca de olhares que nem precisaria dizer mais nada: o tema da apresentação seria o espinhudo tema da regulamentação da profissão de síndico.

Tema controverso, que merece muito debate e discussão. Muitos projetos de lei já foram propostos e o tema começa a ganhar cada vez mais relevância na área condominial.
E porque começamos falando da nossa diferença – como profissionais do direito – aos Síndicos? Porque como Advogados que somos, com sociedade inscrita e regulamentada na OAB, temos uma profissão reconhecida e…engessada pelo órgão regulamentador.

Claro que entendemos a necessidade de profissionalização, os desejos, anseios e sentimentos dos Síndicos pelo Brasil. Atendemos centenas deles e sabemos muito bem suas dores, a forma como ainda sofrem preconceito, como precisam utilizar do próprio dinheiro para defenderem-se de condôminos perseguidores.

Sabemos como sofrem com a prostituição do mercado, com aviltamento de honorários, com desprestigio de administradores, com ofensas e xingamentos de condôminos. A vida de um profissional autônomo não é fácil, e sinto te dizer: nada disso irá mudar com a regulamentação da profissão de síndico.

Como Advogado, tenho todo o amparo legal de uma profissão regulamentada: Possuo um código de ética com status de lei federal. Tenho número de inscrição, custos anuidades de manutenção do número, caixa de assistência previdenciária e… descontos em lavanderia!

De certo mesmo, meus amigos, só uma coisa posso lhe afirmar: quem nos regulamenta de verdade não é a OAB, com todo seu respaldo e orçamento milionário, mas sim um Senhor chamado MERCADO!

É ele quem dita nossas regras. Quem me diz quanto posso cobrar, o quanto posso oferecer. E não pense que não sofremos problemas parecidos como os que vocês sofrem.

Recebemos diariamente pedidos de orçamento, sem consulta, sem explicações, somente com o preço em destaque. Isso que manda no meu mercado. Síndico raramente quer saber se meu site está no ar, quanto invisto em marketing, sistemas de monitoramento, treinamento de equipe, qualificação, infraestrutura física. Síndico não quer saber se meu note é de primeira ou última geração, e sim do preço que cobro.

Muito menos se disponibilizo número único de contato, se possuo 3 sedes físicas em pontos estratégicos, se nossos colaboradores fazem pós graduação, ou programas de expansão.
Isso tudo e muito mais, para ao final, quando receber uma resposta, muitas vezes ela se torna um: “tá caro.”

Nós, da ZDL ADVOGADOS somos a favor sim do fortalecimento da área condominial, da profissionalização da carreira de síndico, do fim do amadorismo, jeitinho e corrupção em nossos condomínios.

O que infelizmente não podemos garantir aos nossos síndicos é que, como num passe de mágica, a regulamentação resolverá as principais dores da profissão.

Não vai. Perdão pelo texto direto e preciso, contrário ao que pregam e desejam muitos dos nossos síndicos.

O mercado – mais do que qualquer órgão regulamentador – delimita as regras. E ao entender isso, passamos a perceber que estamos nós, Advogados Condominiais e Síndicos no mesmo barco, independente de regulamentação: na corda bamba entre preço e valor.

Escrito por Clodoaldo Lima
Sócio na Zabalegui & De Lima Advogados
contato@zld.adv.br